sábado, 31 de outubro de 2009

O bruxo genial

Quanto tempo durará, sei lá. Mas minha vontade é de começar a escrever crônicas, relatando passagens de uma vida profissional e a convivência em tantos lugares e com tantas pessoas, vivendo situações marcantes e outras até muito chatas, de tão insignificantes.

Vou fazer uma espécie de diário de verdade, um weblog na acepção plena. Vou tentar. Dizia meu guru A. Seixas Neto que um dos meus defeitos era a dispersão intelectual. Arguto, ele me conhecia, pois foi meu padrinho em tantas iniciativas da vida, como o ingresso na Loja Maçônica Jerônimo Coelho e depois a migração para a Loja Mâncio Costa, por ele fundada, em Florianópolis.

E começo minhas contações por Seixas Neto, a propósito.

Eu o conheci em 1976, quando trabalhei na Rádio Diário da Manhã de Florianópolis, hoje CBN. Ele fazia a previsão de tempo do "Vanguarda", jornal originalmente apresentado por Adolfo Zigelli, ressuscitado por Augusto Melo. Eu o apresentava com o José Valério.

Na primeira vez que o vi, o Augusto me aproximou dele e disse: "Este é o Aderbal Machado". Ele me estendeu a mão e continuou andando. Cumprimentou-me praticamente de costas, mas, depois de apertar minha mão, disse: "Pelo lóbulo da mão, é boa gente".

Seixas tinha algumas estranhas maneiras de se relacionar e de selecionar seus amigos. Místico, sempre ligava os fatos e a vida a fatores cósmicos. Por isso, chamavam-no de bruxo. A sua especialidade eram, justamente, os fenômenos planetários.

Escreveu dois livros, dentre tantos, e que li: "Nem deuses, nem astronautas", refutando a teoria de Erick Von Daniken, que pregava que as estátuas da Ilha de Páscoa seriam obra de ETs, por exemplo. E também fez um trabalho voltado às explicações dos planetas, chamada "Zodíaco". Nesta, colocou uma dedicatória, ao me presentear.

Sei lá porque, Seixas tinha uma especial empatia por mim. Vivia me elogiando, a ponto de me constranger diante de outras pessoas, pois passava a impressão de que eu seria um gênio especialíssimo. Isso me constrangia ainda mais porque ele, Seixas, era realmente um gênio reconhecido internacionalmente. Era, por exemplo, membro da Academias de Ciências de Roma da Academia de Letras de Santa Catarina. Era um folclorista de primeira linha e se ombreou com Franklin Cascaes, o mais famoso deles, na Ilha de Santa Catarina, e com Meyer Filho.


(LEIA AQUI UM TRABALHO DE SEIXAS NETO SOBRE FOLCLORE)

(A ESTUPENDA CULTURA E INTELECTUALIDADE DE SEIXAS NETO E SUA BIOGRAFIA RESUMIDA, VEJA AQUI)

Na foto, apareço eu, bem mais moço e muito mais magro, com Seixas Neto, o professor Jorge Darós, ex-padre católico, e o então diretor do Colégio Marista, Aloísio Stupp, no estúdio da TV Eldorado de Criciúma, numa noite em que o entrevistamos ao vivo, num programa especial. O ano era 1980. O mês, nem me perguntem.


Seixas faleceu em 1984, após amputar uma das pernas devido a uma trombose. Perdi, certamente, um padrinho e um formidável amigo. Outro dia conto algumas passagens engraçadas que vivemos juntos, Seixas e eu. Pois, apesar de sua imensa genialidade, ele guardava consigo alguns aspectos até simplórios. Coisa de bruxo e de gênio.

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